Jogos Olímpicos de Inverno

Começa hoje em Pyeong Chang a 23ª Edição dos Jogos Olímpicos de Inverno!

Sempre gostei muito dos Jogos Olímpicos, lembro-me se ser menino e ficar horas em frente à televisão, ainda a preto e branco, embevecido a apreciar os desempenhos daqueles(as) magníficos(as) Atletas.

Depois quando a transmissão acabava, eram poucas as horas que a nossa televisão dedicava aos Jogos Olímpicos, vinha para a rua e desafiava os meus amigos a reproduzirmos as provas que via.

Corríamos os 100 metros, os 1500 metros e até os 10.000 metros, tudo de seguida, em voltas intermináveis por entre as oliveiras onde habitualmente brincávamos, fazíamos o salto em altura e em comprimento, e tudo aquilo que a nossa imaginação permitia e alcançava. Bons tempos!

Já jovem, a minha paixão pelo desporto acentuou-se, ao ponto de a transformar na minha profissão!

Só mais tarde descobri os Jogos Olímpicos de Inverno, e em 1994 quando estive em Chamonix pela primeira vez para subir ao Monte Branco (4807 m), visitei as instalações que ainda restam dos primeiros Jogos Olímpicos de Inverno, que se realizaram nesta cidade no já longínquo ano de 1924.

Impressionou-me particularmente o velho trampolim de madeira onde se realizaram os saltos.

Desde então, acompanho o mais possível esta grande festa do desporto, que apesar de tantas vicissitudes politicas, continua a ser um espaço nobre de convívio e superação desportiva entre todos os povos.

E agora chegou a altura de te revelar um segredo:

Desta vez, tentei fazer parte desta grande festa, não como espectador, mas como Atleta!

Já te falei noutras ocasiões do meu gosto pelo Ski de Fundo, que utilizo sempre que posso, como forma de me preparar para os meus desafios, pois não é que em finais de Novembro do ano passado, decidi que iria tentar o apuramento para estes Jogos, nos 15 quilómetros estilo livre (skating) em ski de fundo?

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Parece mentira mas é verdade!

O apuramento para uns Jogos Olímpicos é o grande objectivo da carreira de muitos atletas, que levam anos a preparar-se para isso, apesar de tudo, achei que devia  tentar!

Alterei de imediato o meu plano de treino mais vocacionado para distâncias longas, que me permitem estar muitas horas seguidas em actividade, coisa que para esta prova não se justificava, visto os 15 quilómetros terem no meu caso uma duração prevista entre 40/45′.

Não foi fácil  passar a treinar de formar diferente, mas tal como noutras ocasiões, o meu corpo não me deixou ficar mal, e pouco a pouco foi assumindo as novas “directrizes”, tornando-se mais rápido e ágil.

Como não tinha neve à minha disposição, os treinos específicos foram feitos em patins de linha, em ciclovias e a horas pouco convidativas, para fugir aos peões e me ir habituando ao fuso horário da Coreia do Sul.

Andava entusiasmado!

Era um novo desafio, e como gosto de treinar, tudo corria às mil maravilhas!

Só que era preciso fazer no estrangeiro uma ou duas provas de apuramento até ao dia 21 e Janeiro de 2018. Contactei a Federação Portuguesa de Desportos de Inverno  que me deu todas as informações necessárias, mas que manifestou a impossibilidade de me ajudar financeiramente para poder participar nas referidas provas.

Bom, sem o apoio da FPDI  não podia inscrever-me, e sem me inscrever, não podia participar nas provas!

Foi difícil aceitar, mas tinha de renunciar a este objectivo, e no dia 20 de Janeiro interrompi este projecto.

Confesso que seria muito difícil apurar-me, mas estava a fazer todos os possíveis para que isso acontecesse.

Para mim ficará sempre na memória o entusiasmo que dediquei a esta causa, todo o treino que fiz e que me obrigou literalmente a percorrer caminhos desconhecidos, orgulho-me de ser capaz de sonhar e lutar por objectivos difíceis de alcançar, e sobretudo, confirmei mais uma vez que a vida tem mais sentido quando o nosso entusiasmo e a nossa paixão nos empurram na direcção daquilo que verdadeiramente SOMOS!

Fica o testemunho, ficam as memórias, outros desafios se seguirão!

E agora toca a desfrutar, o SHOW vai começar!

Um VIVA aos Jogos Olímpicos, sobretudo aos de Inverno, sobretudo aos de Pyeong Chang, onde não estando fisicamente, estarei de ALMA e CORAÇÃO!

Manuel Dias

Manuel Dias era um atleta muito franzino que primava pela sua permanente boa disposição.

Sendo ardina de profissão, como a maior parte dos corredores pedestres dessa altura,recolhia os jornais no Bairro Alto, onde se situavam a maior parte das redacções dos jornais de então, e partia em passo de corrida pela cidade fora, distribuindo pelos clientes os jornais que transportava numa sacola, aproveitando assim para treinar para as provas!

Como corredor marcou uma época, tendo ficado conhecido pelas suas presenças na Maratona dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 e na Maratona da Coroação em Londres, ano seguinte, onde aliás ficou num honroso 2º lugar!

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Nos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim, os jogos de Hitler, Manuel Dias comandou a prova da Maratona até aos 15 km, juntamente com o Argentino Zaballa, tendo passado em 4º lugar à Meia Maratona, facto devidamente anunciando nos altifalantes do Estádio Olímpico.

No entanto a utilização de umas sapatilhas de ginástica muito frágeis, que lhe tinham oferecido dias antes e que ele nem sequer experimentara, deixaram-lhe os pés em sangue, obrigando-o a parar por volta dos 30 kms.

Foi nessa altura que um escuteiro que prestava apoio à prova, lhe emprestou as suas botas, permitindo-lhe assim terminar a Maratona em 17º lugar.

No final, Manuel Dias referiu que, na ânsia de prestigiar o nosso país, se tinha entusiasmado na parte inicial, correndo mais rápido do que o aconselhado.

Manuel Dias que começou a correr pelo Grupo Desportivo Vendedores de Jornais, representou também o Benfica e o Sporting, tendo sido Campeão Nacional 25 vezes, 6 delas na Maratona e 8 no Corta- Mato.

Apesar dos seus feitos, continuou a ser ardina, trabalho que desempenhava desde menino.

Anos mais tarde, em 1949, ainda vendedor de jornais, saiu-lhe um prémio na lotaria no valor de 40 contos (200€ na moeda actual), tendo com esse dinheiro fundado o Jornal Desportivo “Record”.

Sendo talvez, o primeiro grande fundista da História do Atletismo Português, será sempre recordado como um atleta alegre e generoso, pequeno no tamanho, mas muito grande na vontade de VENCER!