TEM DE SER NÃO É…

Gosto muito de treinar! Quando não estou nas montanhas, dedico-me ao treino. Não de forma obsessiva, mas de um modo consistente e continuado.

Faço de tudo um pouco, gosto de patinar, de correr, de nadar, de andar de bicicleta, de remar, de fazer ski de fundo e de montanha, de escalar, de caminhar, etc…

No entanto, reconheço que o que faço mais assiduamente é correr.

Saio de casa e gosto de percorrer todos os trilhos que existem na zona onde vivo, de subir e descer os montes, com chuva, com frio, com sol, quase sempre com vento, às vezes durante uma manhã inteira!

Adoro descobrir novos caminhos e de ligá-los a outros que já conheço.

Por vezes, cruzo-me com algum pastor ou algum agricultor, saúdo-os, e já aconteceu retribuírem a saudação com um olhar admirado e a seguinte frase: ” Tem de ser não é…” Fico a pensar nisto…

Será que conhecendo talvez a minha ocupação profissional, entendem que corro por obrigação?

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São pessoas que conhecem o valor do trabalho árduo, no entanto, não consigo esquecer as suas vozes resignadas, quando agarrados ao seu cajado de pastor, ou com as mãos ferradas ao cabo da enxada, me dizem isto.

Respeito muito qualquer profissão, desde que escolhida com consciência e desempenhada com dedicação.

Todas são válidas e honrosas, mas fico a pensar que, no caso destas pessoas, as suas ocupações foram mais impostas do que escolhidas, e que embora sendo desempenhadas com responsabilidade, carecem de paixão.

Não acredito no ” Tem de ser não é…”, acho que só tem de ser se quisermos que assim seja, está nas nossas mãos escolher a nossa ocupação, a nossa profissão, o nosso modo de viver.

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Podemos fazer o que quisermos, e enquanto quisermos, desde que o façamos com consciência.

A resignação não é um modo de vida, é uma escolha de cada um!

Eu não corro porque tem de ser, eu corro porque quero, porque isso me faz sentir bem, e faz parte do meu propósito de vida, escolho que seja assim, e assim será enquanto puder e quiser!

A vida é demasiado preciosa, para que a desperdicemos com coisas que não contribuam para nos fazer sentir bem, mais satisfeitos, mais felizes.

Compete-nos a nós fazer as nossas escolhas, as nossas opções, e assumi-las com determinação!

Na montanha, cada decisão tem um peso muito grande, algumas delas levam consigo o cunho da própria sobrevivência, e talvez seja por isso que as montanhas exercem em nós um poder tão grande.

O poder de nos transformar cada vez que as subimos, e, quando regressamos plenos e felizes à normalidade dos nossos dias, estamos mais convencidos do que nunca, que a vida só tem de ser aquilo que nós quisermos que seja!

Anseio pelo dia em que nos cruzemos numa qualquer montanha, até lá, enfrenta com coragem e determinação, os desafios que a vida te vai colocando, na certeza de que a  tua vida só tem de ser aquilo que tu quiseres que ela seja.

Jogos Olímpicos de Inverno

Começa hoje em Pyeong Chang a 23ª Edição dos Jogos Olímpicos de Inverno!

Sempre gostei muito dos Jogos Olímpicos, lembro-me se ser menino e ficar horas em frente à televisão, ainda a preto e branco, embevecido a apreciar os desempenhos daqueles(as) magníficos(as) Atletas.

Depois quando a transmissão acabava, eram poucas as horas que a nossa televisão dedicava aos Jogos Olímpicos, vinha para a rua e desafiava os meus amigos a reproduzirmos as provas que via.

Corríamos os 100 metros, os 1500 metros e até os 10.000 metros, tudo de seguida, em voltas intermináveis por entre as oliveiras onde habitualmente brincávamos, fazíamos o salto em altura e em comprimento, e tudo aquilo que a nossa imaginação permitia e alcançava. Bons tempos!

Já jovem, a minha paixão pelo desporto acentuou-se, ao ponto de a transformar na minha profissão!

Só mais tarde descobri os Jogos Olímpicos de Inverno, e em 1994 quando estive em Chamonix pela primeira vez para subir ao Monte Branco (4807 m), visitei as instalações que ainda restam dos primeiros Jogos Olímpicos de Inverno, que se realizaram nesta cidade no já longínquo ano de 1924.

Impressionou-me particularmente o velho trampolim de madeira onde se realizaram os saltos.

Desde então, acompanho o mais possível esta grande festa do desporto, que apesar de tantas vicissitudes politicas, continua a ser um espaço nobre de convívio e superação desportiva entre todos os povos.

E agora chegou a altura de te revelar um segredo:

Desta vez, tentei fazer parte desta grande festa, não como espectador, mas como Atleta!

Já te falei noutras ocasiões do meu gosto pelo Ski de Fundo, que utilizo sempre que posso, como forma de me preparar para os meus desafios, pois não é que em finais de Novembro do ano passado, decidi que iria tentar o apuramento para estes Jogos, nos 15 quilómetros estilo livre (skating) em ski de fundo?

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Parece mentira mas é verdade!

O apuramento para uns Jogos Olímpicos é o grande objectivo da carreira de muitos atletas, que levam anos a preparar-se para isso, apesar de tudo, achei que devia  tentar!

Alterei de imediato o meu plano de treino mais vocacionado para distâncias longas, que me permitem estar muitas horas seguidas em actividade, coisa que para esta prova não se justificava, visto os 15 quilómetros terem no meu caso uma duração prevista entre 40/45′.

Não foi fácil  passar a treinar de formar diferente, mas tal como noutras ocasiões, o meu corpo não me deixou ficar mal, e pouco a pouco foi assumindo as novas “directrizes”, tornando-se mais rápido e ágil.

Como não tinha neve à minha disposição, os treinos específicos foram feitos em patins de linha, em ciclovias e a horas pouco convidativas, para fugir aos peões e me ir habituando ao fuso horário da Coreia do Sul.

Andava entusiasmado!

Era um novo desafio, e como gosto de treinar, tudo corria às mil maravilhas!

Só que era preciso fazer no estrangeiro uma ou duas provas de apuramento até ao dia 21 e Janeiro de 2018. Contactei a Federação Portuguesa de Desportos de Inverno  que me deu todas as informações necessárias, mas que manifestou a impossibilidade de me ajudar financeiramente para poder participar nas referidas provas.

Bom, sem o apoio da FPDI  não podia inscrever-me, e sem me inscrever, não podia participar nas provas!

Foi difícil aceitar, mas tinha de renunciar a este objectivo, e no dia 20 de Janeiro interrompi este projecto.

Confesso que seria muito difícil apurar-me, mas estava a fazer todos os possíveis para que isso acontecesse.

Para mim ficará sempre na memória o entusiasmo que dediquei a esta causa, todo o treino que fiz e que me obrigou literalmente a percorrer caminhos desconhecidos, orgulho-me de ser capaz de sonhar e lutar por objectivos difíceis de alcançar, e sobretudo, confirmei mais uma vez que a vida tem mais sentido quando o nosso entusiasmo e a nossa paixão nos empurram na direcção daquilo que verdadeiramente SOMOS!

Fica o testemunho, ficam as memórias, outros desafios se seguirão!

E agora toca a desfrutar, o SHOW vai começar!

Um VIVA aos Jogos Olímpicos, sobretudo aos de Inverno, sobretudo aos de Pyeong Chang, onde não estando fisicamente, estarei de ALMA e CORAÇÃO!

O Legado de Terry Fox

A história que quero partilhar contigo, é uma das mais inspiradoras que conheço, e não raras vezes recorro a ela para me auto – motivar na superação dos meus desafios pessoais.

Terrance Stanley Fox, mais conhecido por Terry Fox, era um jovem canadiano, nascido em Winnipeg a 28 de Julho de 1958, desde pequeno que Terry mostrava muita paixão pelo desporto, em particular pelo Basquetebol e pela corrida.

Apesar de medir apenas 1,73 metros de altura, não se amedrontava perante os “gigantes” das outras equipas e compensava a sua baixa estatura com uma grande determinação e entrega nos treinos, ganhando a admiração dos seus colegas.

No entanto, tudo mudou naquela tarde de 12 de Novembro de 1976, quando embateu com o carro que conduzia em direcção ao treino, na traseira de uma camião.

Apesar do susto, Terry apenas ficou com uma pequena dor no joelho direito, o que nem sequer o impediu de apanhar um autocarro e marcar presença em mais um treino da sua equipa, como tanto gostava!

Os dias passavam ,e aquela dor a que não tinha dado grande importância não cedia, apesar dos tratamentos caseiros e dos analgésicos que começou a tomar.

No dia 1 de Março de 1977, Terry ,depois de dar 7 voltas a correr na pista de Atletismo da sua Escola, teve de parar, tinha o joelho muito inchado e mal conseguia andar.

Decidiu ir ao médico!

Três dias mais tarde, o médico anunciou-lhe sem dúvidas nenhumas, que tinha um osteosarcoma, um cancro nos ossos que atinge sobretudo crianças e adolescentes.

Devastado com o diagnóstico mas com a coragem de sempre, Terry foi sujeito a uma operação 5 dias depois, onde lhe amputaram a perna direita acima do joelho, tendo  os médicos pensado que o cancro estava controlado.

Quando acordou, e ainda sonolento da anestesia, perguntou a si mesmo quando é que poderia voltar a andar.

Recorrendo ao seu carácter lutador e à sua coragem inabalável, encetou uma recuperação impressionante que deixou todas as pessoas admiradas.

Experimentou a 1ª prótese 3 semanas depois de ter sido operado, e 3 semanas mais tarde, já conseguia caminhar o suficiente para poder participar em jogos de mini-golfe.

Trabalhou no fortalecimento de todo o corpo e decidiu começar a correr, desafiando-se a si mesmo!

Na 1ª corrida de 100 metros em que participou, ao tiro de partida, Terry saiu o mais rápido que podia, mas ainda não tinha percorrido 10 metros e já a sua prótese se tinha partido pelo joelho!

Este insucesso, ao invés de derrotá-lo, deu-lhe ainda mais forças para continuar, levando-o a procurar melhorar a sua prótese, que não chegava sequer aos “calcanhares” das actualmente utilizadas  pelos velocistas e maratonistas.

Terry  era um lutador incansável, e na sua cabeça foi nascendo a ideia de atravessar todo o Canadá a correr, como forma de angariar fundos para ajudar a pesquisar formas de luta contra o cancro!

Durante um ano  treinou arduamente, participando inclusive numa prova de 27 quilómetros, que completou em 3 horas e 9 minutos  ficando na última posição.

Decidido a concretizar o seu projecto a que chamou de Maratona da Esperança, angariou apoios, uma carrinha de apoio que seria conduzida por um amigo, algum material desportivo e ajuda financeira para o combustível.

Até que finalmente o grande dia chegou, e a 12 de Abril de 1980, Terry partiu de St. John´s na Terra Nova, junto ao Oceano Atlântico, de onde encheu duas garrafas de água que pretendia despejar no Oceano Pacífico, quando terminasse a sua jornada  7250 quilómetros mais à frente!

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Durante 143 dias  Terry não parou, percorrendo mais de 5000 quilómetros a uma média de 40 quilómetros por dia!

A sua determinação, coragem e espírito de missão, permitiram-lhe ultrapassar o cansaço e a fadiga, fazendo com que a cada dia que passava a sua mensagem chegasse mais longe, empolgando as pessoas de um País inteiro, que no final de cada etapa, faziam fila para contribuir financeiramente para tão nobre causa.

Ninguém ficava indiferente a este gesto sobre-humano.

Tiveram vários percalços, num deles um camião abalroou a comitiva, ferindo várias pessoas e não matando Terry Fox por pouco.

Até que no dia 1 de Setembro de 1980, em Thunder Bay, Ontário, com 5373 quilómetros percorridos, Terry foi forçado a parar, o cancro tinha atingido os seus pulmões!

Dias antes, tinha dito que se não pudesse terminar esta tarefa, outros teriam que a fazer por ele, pois esta causa tinha de prosseguir o seu caminho!

Terry lutou tenazmente contra a doença durante quase um ano, até que faleceu no dia 28 de Junho de 1981, um mês antes de completar 23 anos.

Quando foi obrigado a parar, muitos quiseram terminar a tarefa por ele, o que recusou, na esperança de ainda poder completar o caminho por si mesmo! No entanto, quando verificou que isso já não seria possível, incentivou a realização de outras corridas como forma de angariação de fundos.

A sua vontade foi cumprida, e a 13 de Setembro de 1981 foi realizada a 1ª corrida Terry Fox, reunindo 300 mil participantes  em mais de 700 localidades, o que permitiu arrecadar 3,5 milhões de US$.

Hoje, a Fundação Terry Fox  realiza corridas em todo o mundo e já arrecadou centenas de milhões de dólares para projectos de combate ao cancro.

Em Portugal esta corrida realiza-se todos os anos no Parque das Nações, na distância de 10 quilómetros, estando a próxima agendada para o dia 21 de Abril, ás 10 horas da manhã, e revertendo a receita para a sua Fundação.

Pela minha parte, todos os anos procuro participar, é a minha modesta contribuição para uma causa tão grandiosa!

Terry, foi escolhido por todos os Canadianos, como a personagem mais famosa do século XX e a 2ª mais importante da história do País.

Existem estátuas e bustos seus por muitos lugares, várias ruas,  parques e escolas com o seu nome, perpetuando o seu legado e reforçando os valores que defendia.

Para mim, o espírito de Terry Fox permanece bem vivo e inspira-me sempre a dar o meu melhor.

Foi um grande exemplo de coragem e determinação em prol de uma causa, que abraçou e soube transformar na missão da sua vida!

 

UMA AVENTURA NO JURA

Gosto  muito de fazer ski de fundo, esta paixão já vem de longe, desde 1995, altura em que um colega de Educação Física Francês, o Xavier, me convidou para fazer a travessia do Jura em ski de fundo.

Já conhecia o Xavier desde 1993, ano em que o recebi a ele e a alguns alunos seus aqui em Portugal, para em conjunto comigo e alguns dos meus alunos, efectuarmos um estágio de escalada na Serra de Sintra e da Arrábida.

Foi uma actividade muito intensa e engraçada, da qual me recordo muitas vezes.

Mas voltando ao ski de fundo, assim que ouvi o convite do Xavier, não hesitei! E sem pensar duas vezes, aceitei de imediato!

O Jura é uma região situada entre a Suiça e a França, e a actividade consistia em percorrer cerca de 220 kms, em regime de auto-suficiência em cima de uns esquis de que para quem não sabe são bastante mais estreitos que os de ski de pista.

Fiquei empolgado perante a perspectiva de uma aventura a sério, só existia um problema, eu nunca tinha feito ski de fundo!

Bom, não seria com certeza esse “pequeno” pormenor que me afastaria de ir.

Continuei o meu treino aqui em Portugal, tratei da viagem e no inicio de Fevereiro, lá fui eu para Paris ao encontro dos meus colegas de expedição, o Xavier  e outro francês e dois companheiros Ingleses.

Aluguei umas botas e uns esquis em Paris, na loja da Vieux Campeur, e lá fomos nós numa carrinha em direcção a Bellecombe, ponto de partida desta aventura.

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Mochila ás costas, a minha com cerca de 30 quilos, ski nos pés e lá vamos nós rumo à aventura!

Os meus primeiros kms serviram para aprender os movimentos de técnica de esquiar, que para espanto meu e dos meus colegas, facilmente adquiri!

Aquele inverno estava a ser muito rigoroso, tinha nevado muito, e a temperatura nunca subia acima dos -10º negativos, mesmo de dia!

Fazíamos cerca de 30 kms diários por meio de floresta de cedros e abetos, orientando-nos por uma carta e uma bússola que guardávamos religiosamente nos bolsos dos nossos casacos, pois sem elas a nossa sobrevivência estaria comprometida.

A meio do dia, fazíamos sempre uma paragem de 1 hora, para descansar e comer alguma coisa e depois lá seguíamos nós abrindo caminho por entre quantidades monstruosas de neve.

Subíamos e descíamos continuamente, ás vezes as descidas por neve virgem não eram mais do que quedas controladas, até que um dia  alcançámos o ponto mais alto do Jura a Crete de la Neije com 1718 metros de altitude.

Lembro-me de estar sentado em cima da mochila a contemplar  a maravilhosa paisagem que se abria perante os meus olhos, o lago Leman, o Monte Branco com o seu cume resplandecente e onde eu havia estado no ano anterior. Estava extasiado e todos os muitos esforços despendidos para ali chegar, tinham merecido a pena.

No cume de uma Montanha moram sempre a paz e a tranquilidade para quem ousa lá chegar.

Chegávamos ao final de cada dia exaustos, montávamos a tenda no meio da neve, derretíamos alguma dentro das nossas caçarolas para preparar chá e uma sopa e metiamo-nos dentro do saco de cama, preparados para suportar os  20º negativos que a noite nos traria.

Atento ao silêncio e aos sons próprios dos grandes espaços selvagens, tentava aquecer-me até que naturalmente os meus olhos se fechavam, vencidos pelo cansaço da jornada.

Com as primeiras claridades da madrugada acordávamos e repetíamos a rotina, derreter água, beber um chá e uma sopa, comer alguns frutos secos, vestir a roupa de abrigo, calçar as botas de ski, desmontar a tenda ainda gelada, fazer a mochila, colocar os skis  e continuar a marcha rapidamente para nos aquecermos.

Foram dias duros mas muito gratificantes, que me ajudaram a  forjar o meu carácter de montanheiro determinado.

Os obstáculos tornam-nos sempre mais fortes!

Quando ao fim de oito dias de esforço e solidão, avistámos as casas da aldeia onde finalizava a nossa viagem, senti que tinha acabado de fazer uma coisa que jamais iria esquecer, por tudo o que tinha sido obrigado a ir buscar dentro de mim, em esforço e determinação.

Nesse dia ao jantar, finalmente livres da tirania das sopas em pacote, pudemos dar largas ao nosso apetite voraz! Que no meu caso foi atenuado por dois magníficos bitoques, regados com um copo de vinho tinto, com o qual comemoramos os cinco, tão inesquecível aventura!

Hoje à distância de todos estes anos, orgulho-me de mesmo sem saber o que me esperava, ter tido a coragem e a ousadia de caminhar rumo ao desconhecido, sem essa atitude não teria vivido esta bela aventura.

A paixão pelo ski de fundo perdura até aos dias de hoje, e assim que os primeiros flocos de neve caiem, lá vou eu para os Pirinéus ou para a nossa Serra da Estrela, desfrutar de uma actividade que me faz sentir bem, que me revigora o corpo e a alma.

Gosto tanto do ski de fundo, que em breve terei noticias para te dar!

Até que os nossos destinos se cruzem, a fazer ski de fundo ou a subir uma Montanha, desejo que vás superando com coragem e ousadia os teus desafios pessoais.

UM ABRAÇO!

 

 

NUNCA É TARDE PARA COMEÇAR…

Faleceu no ano passado, no dia 16 de Outubro de 2017, a Senhora Harriette Thompson, com 94 anos, uma mulher que nos ensinou que nunca é tarde demais para começarmos o que quer que seja.

A Senhora Harriette, sobrevivente de 2 cancros ( na pele e no maxilar), começou em 1999 a correr a Maratona, com 76 anos de idade e só parou aos 92.

Antes só havia corrido com o seu marido distâncias mais curtas, na década de 50, no entanto, desafiada por uma amiga do coro onde cantava, decidiu participar na Maratona de San Diego como forma de angariar dinheiro para as pesquisas sobre a Leucemia e o Linfoma.

Ano após ano, esta Senhora foi terminando Maratonas, até que em 2015 se tornou a mulher mais velha a terminar uma Maratona, mais uma vez a de San Diego, com a proveta idade de 92 anos e 93 dias, percorrendo os 42.195 metros em 7 horas, 24 minutos e 36 segundos!

este ano, mais precisamente em 4 de Junho de 2017, completa a Meia Maratona de San Diego em 3 horas, 42 minutos e 56 segundos, tornando-se a mulher mais velha de sempre a completar esta distância!

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A sua última prova foi no dia 26 de Agosto de 2017 em Charlotte na distância de 5 kms.

Harriette, que perdeu o seu marido para o cancro em 2015, e que tinha um dos seus 5 filhos doente com a mesma doença, corria por uma causa, para a qual conseguiu angariar mais de 120.000 dólares ao longo de 18 anos.

Adorava a música, tendo sido pianista profissional do Carnegie Hall, a casa de concertos mais famosa de Nova York, e afirmava que corria sempre com a música de Rachmaninoff, o seu compositor preferido, na cabeça, não precisando de auscultadores, porque a imaginava!

Para ela, tocar piano era bem mais difícil do que correr a Maratona!

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Quando bateu o recorde do Mundo, cortou a meta com o seu filho Brenneman, e disse que estava bem porque foi muito mimada durante todo o trajeto.

Perguntavam-lhe muitas vezes como se sentia, respondia sempre: ” Estou bem, a não ser que queiram saber os detalhes, tenho limitações que não tinha antes e não me mexo tão rápido como há 18 anos atrás, mas no geral estou bem!” dizia sempre sorrindo.

Pensamento positivo, uma causa pela qual lutar, e uma força de viver indomável!

Mais palavras para quê…

 

AO MAU TEMPO, CARA ALEGRE

A luz do entardecer esbatia-se rapidamente, e com ela vieram os primeiros flocos de neve, primeiro timidamente, depois com regularidade.

Foi já com o céu cor de chumbo, que a queda de neve se transformou em tempestade.

Impulsionadas por um vento que a cada instante aumentava de intensidade, os flocos de neve começaram a vestir a montanha de branco, apagando rapidamente as minhas pegadas.

O avanço revelava-se cada vez mais difícil, obrigando-me a um esforço suplementar.

Parei e olhei em meu redor, na esperança de encontrar alguma referência visual, consultei o mapa, bem protegido no bolso do meu casaco, nada, impossível, tudo à minha volta era branco e cinzento, ocultando qualquer vestígio que pudesse ajudar a orientar-me.

Sabia para onde queria ir, tinha planeado passar aquela noite num “col” a 3500 metros de altitude, no entanto, era preciso reavaliar a situação.

O meu altímetro indicava 3237 metros de altitude, e eu devia estar a cerca de 2 horas do meu objectivo, mas a falta de visibilidade complicava tudo!

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Decidi parar, para quê continuar a gastar energia sem saber se estava no rumo certo, correndo o risco de me afastar cada vez mais e de forma perigosa do objectivo que queria alcançar? Não fazia sentido.

Improvisei um bivaque, como estava a viajar em autonomia, tinha comigo o saco cama, o saco de bivaque, o fogão e todos os outros utensílios necessários.

Com dificuldade encontrei uma rocha, que juntamente com a minha mochila, utilizei para me proteger, acendi o meu frontal, meti-me dentro do saco cama e do saco de bivaque, e sentado de costas contra a rocha, comi e bebi o que me foi possível.

Em meu redor, a neve acumulava-se, conferindo aquele lugar uma áurea de magia.

É sempre possível encontrar beleza mesmo nas situações mais caóticas!

Decidi não me preocupar, controlava o que podia controlar, o resto, o que me escapava, não deveria apoquentar-me.

Devia manter-me atento, e esperar pacientemente, pois sei que a seguir a uma tempestade  vem sempre a bonança!

Acreditava que amanhã iria assistir a um amanhecer maravilhoso, e com ele à perspectiva de mais um dia magnifico, em que continuaria tranquilamente a minha jornada.

Por mais que queiramos avançar obstinadamente, por vezes é preciso saber parar, reavaliar as circunstâncias e esperar pelo despertar de um novo dia, que por mais longa que seja a noite, acabará sempre por surgir!

E assim foi, a meio da noite a tempestade amainou, e pela aurora, como que obedecendo a uma vontade superior, a queda de neve parou.

O céu desanuviou dando lugar a um azul magnifico, que contrastando com o branco das montanhas, conferia à paisagem uma beleza extraordinária!

Arrumei as minhas coisas e segui caminho, estava satisfeito comigo próprio por ter tomado a decisão acertada ,e sem a qual não teria agora o privilégio de assistir a tão deslumbrante espectáculo!

Sorri e disse para mim mesmo, que na montanha, tal como na vida, ao mau tempo cara alegre!

Cliff Young – O Vencedor Improvável

A ultra maratona de Sidney a Melbourne é considerada um dos desafios físicos mais difíceis do mundo.

Ao longo de 875 km, os participantes atravessam montes e planícies durante pelo menos 7 dias!

Têm ordem para comer e dormir onde entenderem, e o vencedor recebe um prémio de 10 mil dólares.

Em 1983, um homem muito magro de 61 anos, produtor de batatas, decidiu participar, apresentando-se na linha de partida de fato de macaco e galochas, para espanto dos outros corredores que apresentavam os últimos modelos da Nike, da Reebok, da Adidas… O gozo foi geral!

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Perante os organizadores e jornalistas, preocupados com a possibilidade de um ataque cardíaco, Cliff Young, assim se chamava este bizarro participante, assegurou-lhes que tinha crescido numa quinta onde não existindo cavalos ou qualquer outro veiculo, era ele que muitas vezes, perante a iminência de uma tempestade, tinha que correr durante dois ou três dias seguidos, para assim reunir as duas mil ovelhas da família, espalhadas por uma quinta de 4000 hectares.

Quando a corrida começou, todos os corredores arrancaram a alta velocidade, deixando Cliff para trás!

Pouco incomodado, Cliff continuou no seu ritmo lento e com passada curta, reforçando a preocupação dos organizadores de que a qualquer momento, e em qualquer lugar do percurso, o iriam encontrar morto!

Cliff, que nunca tinha conhecido nenhum corredor de longa distância, nem nenhum treinador, que tão pouco lera alguma vez algum livro ou revista sobre corrida, tinha um segredo que ele próprio desconhecia.

Não sabia que, numa corrida desta dimensão, era suposto dormir seis ou sete horas por noite!

Na primeira noite, Cliff apenas dormiu duas horas, enquanto os outros dormiam, ele continuava no seu passo lento e curto, sempre devagar mas sem nunca parar!

Assumiu a liderança, que nunca mais perdeu até ao fim da corrida!

No dia seguinte dormiu apenas uma hora, correndo sem parar durante 23 horas!

Indiferente a tudo e a todos, quase sem dormir, Cliff percorreu os 875 km do percurso em 5 dias, 15 horas e 4 minutos, deixando o segundo classificado a mais de dez horas!

Apesar de correr quase 4 maratonas por dia, Cliff Young, retirou mais de dois dias ao anterior recorde! UFA…

Gosto muito desta história! Ela diz-nos que devemos sempre seguir o nosso próprio caminho, à velocidade que mais nos convém, indiferentes às criticas e opiniões de outras pessoas, e fazendo “tábua rasa” de crenças que sendo fundamentais para outros, podem não nos servir a nós próprios.

É preciso desafiá-las SEMPRE!

QUE CAMINHO DEVO SEGUIR?

Na Montanha e na vida, são bons todos os caminhos que conduzem aos caminhos mais altos.

Atingi-los, implica sempre enfrentar e ultrapassar, dificuldades e obstáculos que só valorizam ainda mais a nossa caminhada.

Saber para onde dirigir os nossos passos, é perceber qual é o melhor caminho a percorrer, aquele que melhor nos serve, aquele que mesmo sem sabermos,foi feito para nós, para o seguirmos, com coragem e determinação.

Uma Montanha pode ser sempre subida de várias maneiras, no entanto cada um de nós deve trilhar o seu próprio caminho, que é único, porque únicas são também as características de cada um, nas suas forças e nas suas fraquezas, nas suas ambições e nos seus sonhos, na sua vontade e no seu carácter!

Quanto melhor conheço as Montanhas, mais valorizo a capacidade de saber escolher qual o caminho que quero seguir, de me comprometer com ele e de seguir em frente.

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Incentivo-te a fazer o mesmo, com confiança e determinação, o caminho está lá para ti, à tua espera, porque acredita, existe sempre uma maneira que é a tua e só tua, de subires a tua MONTANHA!

Até que as nossas vidas se cruzem, numa qualquer Montanha, desejo que superes com paixão os teus desafios.

FAZ ACONTECER !

Esta fotografia que partilho contigo, foi tirada numa expedição que fiz no ano de 2007 ao Muzthag-ata, uma Montanha de 7546 metros de altura, situada na China.

Esta expedição começou sete meses antes, quando recebi um convite de um alpinista espanhol, meu amigo, para nela participar.

Apesar desse convite ter sido feito no campo base de uma outra Montanha, o Aconcágua, a expedição  só começou verdadeiramente, quando decidi, dentro de mim, com determinação, participar nesse desafio.

Acredito que as nossas decisões têm de começar sempre dentro de nós, só essas são verdadeiramente importantes!

Depois disso, seguiram-se dias de preparação física e mental, que somaram semanas, que por sua vez se transformaram em meses de trabalho árduo, não basta sonhar, de dizer que gostava de ir, é preciso existir um compromisso forte que nos leve a agir, e a aproximarmos a cada dia que passa, do objectivo que queremos atingir.

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Eu sabia que ia ter uma boa oportunidade, portanto tinha que me preparar para ela, é a isto que eu chamo sorte.

Quando chegou o dia da partida, sempre duro, porque acarreta despedirmos-nos de pessoas que nos são queridas, estava preparado para dar o meu melhor, que só podia ser muito.

E no final, posso dizer-te que esta foi uma expedição na qual aprendi bastante, sobre mim, sobre as Montanhas e sobre os outros, foi uma óptima experiência de vida, na qual colhi grandes lições.

E tudo começou sete meses antes, dentro de mim, no meu coração, onde existem os tesouros mais preciosos, a energia mais poderosa, que tudo FAZ ACONTECER!!!

Até que as nossas vidas se cruzem numa qualquer Montanha, desejo que superes com paixão os teus desafios.