Em 2019, atravessei a Lapónia Finlandesa, a pé, de canoa e de bicicleta todo o terreno.

Saí bem lá de cima até chegar a Rovaniemi, onde passa a linha do círculo Polar Ártico.

Foram 380 km de puro desafio, em regime de auto suficiência, que exigiu de mim uma constante Superação!

Guardo desta viagem emoções muito fortes, e recordações que, estou certo, perdurarão na minha memória por muitos e bons anos.

É precisamente uma dessas recordações que quero partilhar contigo.

Tinha decidido bivacar nas margens do rio que estava a descer.

Após 7 horas seguidas a remar, a minha vontade era puxar a canoa para terra, mudar de roupa, fazer uma pequena fogueira, preparar uma refeição quente e meter-me dentro do meu saco cama.

E assim fiz.

Estava frio, muito frio, mas a pouco e pouco, sentia o calor invadir o meu corpo.

Estava cada vez mais relaxado e grato, por mais um dia de aventuras naquele rio de águas límpidas e frias.

No total já levava cento e tal km de canoagem, e os 37 que tinha feito hoje, tinham exigido de mim o máximo de concentração e esforço, pois as muitas pedras e remoinhos existentes, podiam virar-me a mim e á canoa a qualquer instante, colocando-me numa situação muito delicada.

Envolto neste pensamentos e na esperança de ver alguma aurora boreal, frequentes por estas paragens nesta altura do ano, adormeci.

De vez em quando acordava, incomodado com o chão arenoso com algumas pedras à mistura onde tinha decidido bivacar, mas embalado pelo som som do rio que corria ao meu lado, voltava a adormecer.

Até que, sentindo um barulho diferente ao pé de mim, acordei sobressaltado!

A cerca de 3 metros de distância, uma grande rena olhava curiosa na minha direção, parecendo perguntar-me o que “raio estava eu ali a fazer?”

Fiquei quieto no meu saco cama, com receio de quebrar aquele momento tão raro, e durante 1-2 minutos ficámos a olhar um para o outro.

Aquele olhar profundo e tranquilo espelhavam toda a Paz e Liberdade que regiam a sua vida.

Uma vida passada entre infindáveis florestas, com abundância de água e de alimentos, de silêncio e de espaço.

Foi um momento mágico para mim.

Identifiquei naquele ser magnífico, aquilo que eu próprio sinto quando estou a fazer as minhas aventuras pela Natureza.

Paz e Liberdade.

A Paz e a Liberdade que tanta falta nos fazem nos tempos conturbados que agora vivemos…

A rena, por fim, baixou a sua imponente cabeça sobre a água, bebeu tranquilamente uns bons goles e, passo a passo, com ar confiante e majestoso, afastou-se sem nunca voltar a cabeça para trás!

E eu, “assarapantado” por tão extraordinário encontro, fiquei por ali, agradecido por mais uma dádiva tão profunda e gratificante, como só a Natureza nos pode dar.

Ainda hoje recordo aquele olhar

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Até que as nossas vidas se cruzem nalguma montanha ou trilho, desejo que vás superando com saúde, os desafios do teu dia a dia.

Um abraço!

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