Uma das razões porque gosto tanto de viajar, é a oportunidade de conhecer novas pessoas, novos lugares, novas culturas.

Viajar é uma boa maneira de te renovares, de alargares os teus horizontes, de te conheceres melhor a ti próprio(a).

Nenhuma das viagens que fiz até hoje me defraudou as expectativas, talvez porque em todas elas procurei sempre o lado diferente, o lado pitoresco e único que ela me podia oferecer.

É verdade que tenho um fascínio especial por viajar em sítios remotos da China, do Nepal, do Kirguistão, do Peru, do Equador, da Argentina, da Rússia, de Marrocos e de tantos outros  países.

Estas viagens fazem-me descobrir novas facetas de mim próprio, porque me obrigam a sair da minha zona de conforto, transportando-me literalmente para o desconhecido.

Embora já tenha feito viagens bastante “intensas” para sítios bastante inseguros, nunca senti medo ao ponto de entrar em pânico e me sentir verdadeiramente ameaçado.

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Recordo uma ocasião em 1998 no Equador, em que ,depois de ter sido o 1º Português a subir ao Cotopaxi, o vulcão activo mais alto do mundo com 5895 metros de altitude, decidi ir até à floresta Amazónica pelo lado Equatoriano.

É sempre uma verdadeira aventura viajar pelas “estradas” remotas da América do Sul.

Neste caso concreto “apanhei” um velho autocarro na cidade de Riobamba, que após várias paragens e 16 horas de viagem, me levou até Puerto Misahualy, uma aldeia remota já na Amazónia, onde a estrada termina e começam os rios, que só de piroga e lancha é possível percorrer.

A “estrada” com o nome pomposo de Transamericana, era por esta altura um mero estradão de terra e lama, que sulcava as montanhas a meia encosta.

De um lado corria sempre um rio tumultuoso que 100 ou 200 metros mais abaixo, ameaçava com as suas águas escuras e revoltas.

Do outro lado estávamos “protegidos” por uma escarpa a perder de vista, de onde de vez em quando caía um pedregulho do tamanho de um carro e que bloqueava a estrada!

Valia-nos uma velha escavadora que viajava à nossa frente, e que diligentemente ia afastando as pedras do caminho, permitindo a nossa passagem!

Em dada ocasião e após um solavanco mais violento, uma senhora que viajava ao meu lado ficou sem conseguir respirar, atrapalhado e sem saber o que fazer, chamei pelo condutor, que com um ar enfadado, parou o autocarro, levantou-se, e dirigindo-se à senhora pegou-lhe pelas axilas e deu-lhe um esticão, levantando-a no ar.

Foi remédio santo, como que regressada do mundo dos mortos, a senhora recobrou o fôlego, permitindo ao condutor regressar ao seu posto, com o ar entendido de quem pela centésima vez, pelos mesmos motivos e com os mesmos métodos, tinha salvo a vida de alguém!

A dada altura, entra no autocarro um passageiro transportando uma caixa de madeira, de onde poucos minutos depois retira uma enorme cobra piton albina, mais conhecida nestas paragens  por “matacaballos”, por ter a capacidade de “abraçando-se” ao ventre de um cavalo, o apertar até à morte por estrangulamento!

Este homem vendia uma pomada para os ossos e articulações, a autêntica banha da cobra, então para que não restassem dúvidas, fazia questão de trazer um exemplar de onde esta “mezinha” milagrosa era retirada!

A cobra que seguia pendurada aos seus ombros, passeava a sua bonita cabeça por cima dos passageiros sentados.

Por entre estas e outras peripécias lá fomos continuando “estrada” fora, solavanco aqui, paragem acolá, até que do velho e ruidoso motor, começou a sair um fumo branco que não augurava nada de bom! Pela enésima vez parámos, e curioso pela demora do condutor, decidi sair para ver o que se passava, e em boa hora o fiz, pois o pobre homem cansado e frustrado por tanta contrariedade, tentava sem sucesso, “emborcar” uns quantos litros de óleo no fatigado motor!

Dei-lhe uma “mãozinha”, que ele agradeceu genuinamente dando-me uma palmada com a sua mão  suja de óleo nas minhas costas!

Não me chateei, pelo contrário, satisfeito por ter sido útil, sorri-lhe e devolvi-lhe na mesma moeda, como só velhos companheiros de jornada sabem fazer! Seguimos viagem!

Entretanto a noite caiu, e com ela o espectáculo maravilhoso de percorrer aqueles últimos kilómetros por entre uma floresta densa, repleta de vida e de mistério.

Talvez por termos perturbado o seu descanso, as aves faziam um barulho infernal, na berma da estrada víamos pares de olhos luminosos que “à cautela” nos espiavam!

Que animais seriam? Não sei responder, mas eram certamente muitos e variados!

Devagar lá fomos continuando, e quando voltou a ser necessário efectuar outra paragem para reabastecimento de óleo no motor, o condutor com um gesto da cabeça, convocou-me para o ajudar.

Orgulhoso por tão honroso convite, levantei-me tão ligeiro quanto o cansaço me permitia, e ajudei-o a “reanimar” o pobre motor.

Finalmente chegámos a Puerto Misahualy!

Apesar do tardio da hora de chegada, os poucos habitantes ao ouvirem o ronco ofegante do autocarro, acenderam os seus candeeiros a petróleo e vieram receber-nos na praça central.

Nesta praça  existia uma  árvore enorme,  de onde para meu espanto, desceram dezenas de pequenos macacos que matreiros e espertos, tentavam roubar alguma coisa para comer!

Reencontraram-se familiares, que pela forma efusiva como se abraçavam, há muito que não se viam.

Descarregaram-se as bagagens, caixas, cestas, caixotes, que tanto fizeram sofrer o velho mas tenaz autocarro, e por fim, quando todos se foram embora para o interior das suas humildes casas, fiquei sozinho com a minha mochila e com o condutor do autocarro.

Ofereceu-me uma cerveja que  retirou de uma caixa com gelo,  como que a comemorar o “êxito” desta épica viagem.

Mais tarde,  cansado  desta aventura, afastei-me para longe, indo estender o meu colchão de montanhismo junto a uma árvore, deitei a cabeça na mochila e olhando aquele céu imenso povoado de incontáveis estrelas, esperei pelo amanhecer, e pela oportunidade de seguir a minha viagem e viver novas aventuras, desta vez de piroga rio abaixo, cada vez mais fundo nessa maravilhosa e indescritível Amazónia!

Nesta viagem da qual contei um pequeno trecho, aprendi grandes lições,  entre elas a  de sabermos valorizar as coisas simples, de termos a capacidade para das contrariedades conseguirmos retirar  coisas positivas, pois só assim independentemente das circunstâncias que nos rodeiam, podemos continuar a desfrutar da Vida em todo o seu Esplendor! 

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