O Legado de Terry Fox

A história que quero partilhar contigo, é uma das mais inspiradoras que conheço, e não raras vezes recorro a ela para me auto – motivar na superação dos meus desafios pessoais.

Terrance Stanley Fox, mais conhecido por Terry Fox, era um jovem canadiano, nascido em Winnipeg a 28 de Julho de 1958, desde pequeno que Terry mostrava muita paixão pelo desporto, em particular pelo Basquetebol e pela corrida.

Apesar de medir apenas 1,73 metros de altura, não se amedrontava perante os “gigantes” das outras equipas e compensava a sua baixa estatura com uma grande determinação e entrega nos treinos, ganhando a admiração dos seus colegas.

No entanto, tudo mudou naquela tarde de 12 de Novembro de 1976, quando embateu com o carro que conduzia em direcção ao treino, na traseira de uma camião.

Apesar do susto, Terry apenas ficou com uma pequena dor no joelho direito, o que nem sequer o impediu de apanhar um autocarro e marcar presença em mais um treino da sua equipa, como tanto gostava!

Os dias passavam ,e aquela dor a que não tinha dado grande importância não cedia, apesar dos tratamentos caseiros e dos analgésicos que começou a tomar.

No dia 1 de Março de 1977, Terry ,depois de dar 7 voltas a correr na pista de Atletismo da sua Escola, teve de parar, tinha o joelho muito inchado e mal conseguia andar.

Decidiu ir ao médico!

Três dias mais tarde, o médico anunciou-lhe sem dúvidas nenhumas, que tinha um osteosarcoma, um cancro nos ossos que atinge sobretudo crianças e adolescentes.

Devastado com o diagnóstico mas com a coragem de sempre, Terry foi sujeito a uma operação 5 dias depois, onde lhe amputaram a perna direita acima do joelho, tendo  os médicos pensado que o cancro estava controlado.

Quando acordou, e ainda sonolento da anestesia, perguntou a si mesmo quando é que poderia voltar a andar.

Recorrendo ao seu carácter lutador e à sua coragem inabalável, encetou uma recuperação impressionante que deixou todas as pessoas admiradas.

Experimentou a 1ª prótese 3 semanas depois de ter sido operado, e 3 semanas mais tarde, já conseguia caminhar o suficiente para poder participar em jogos de mini-golfe.

Trabalhou no fortalecimento de todo o corpo e decidiu começar a correr, desafiando-se a si mesmo!

Na 1ª corrida de 100 metros em que participou, ao tiro de partida, Terry saiu o mais rápido que podia, mas ainda não tinha percorrido 10 metros e já a sua prótese se tinha partido pelo joelho!

Este insucesso, ao invés de derrotá-lo, deu-lhe ainda mais forças para continuar, levando-o a procurar melhorar a sua prótese, que não chegava sequer aos “calcanhares” das actualmente utilizadas  pelos velocistas e maratonistas.

Terry  era um lutador incansável, e na sua cabeça foi nascendo a ideia de atravessar todo o Canadá a correr, como forma de angariar fundos para ajudar a pesquisar formas de luta contra o cancro!

Durante um ano  treinou arduamente, participando inclusive numa prova de 27 quilómetros, que completou em 3 horas e 9 minutos  ficando na última posição.

Decidido a concretizar o seu projecto a que chamou de Maratona da Esperança, angariou apoios, uma carrinha de apoio que seria conduzida por um amigo, algum material desportivo e ajuda financeira para o combustível.

Até que finalmente o grande dia chegou, e a 12 de Abril de 1980, Terry partiu de St. John´s na Terra Nova, junto ao Oceano Atlântico, de onde encheu duas garrafas de água que pretendia despejar no Oceano Pacífico, quando terminasse a sua jornada  7250 quilómetros mais à frente!

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Durante 143 dias  Terry não parou, percorrendo mais de 5000 quilómetros a uma média de 40 quilómetros por dia!

A sua determinação, coragem e espírito de missão, permitiram-lhe ultrapassar o cansaço e a fadiga, fazendo com que a cada dia que passava a sua mensagem chegasse mais longe, empolgando as pessoas de um País inteiro, que no final de cada etapa, faziam fila para contribuir financeiramente para tão nobre causa.

Ninguém ficava indiferente a este gesto sobre-humano.

Tiveram vários percalços, num deles um camião abalroou a comitiva, ferindo várias pessoas e não matando Terry Fox por pouco.

Até que no dia 1 de Setembro de 1980, em Thunder Bay, Ontário, com 5373 quilómetros percorridos, Terry foi forçado a parar, o cancro tinha atingido os seus pulmões!

Dias antes, tinha dito que se não pudesse terminar esta tarefa, outros teriam que a fazer por ele, pois esta causa tinha de prosseguir o seu caminho!

Terry lutou tenazmente contra a doença durante quase um ano, até que faleceu no dia 28 de Junho de 1981, um mês antes de completar 23 anos.

Quando foi obrigado a parar, muitos quiseram terminar a tarefa por ele, o que recusou, na esperança de ainda poder completar o caminho por si mesmo! No entanto, quando verificou que isso já não seria possível, incentivou a realização de outras corridas como forma de angariação de fundos.

A sua vontade foi cumprida, e a 13 de Setembro de 1981 foi realizada a 1ª corrida Terry Fox, reunindo 300 mil participantes  em mais de 700 localidades, o que permitiu arrecadar 3,5 milhões de US$.

Hoje, a Fundação Terry Fox  realiza corridas em todo o mundo e já arrecadou centenas de milhões de dólares para projectos de combate ao cancro.

Em Portugal esta corrida realiza-se todos os anos no Parque das Nações, na distância de 10 quilómetros, estando a próxima agendada para o dia 21 de Abril, ás 10 horas da manhã, e revertendo a receita para a sua Fundação.

Pela minha parte, todos os anos procuro participar, é a minha modesta contribuição para uma causa tão grandiosa!

Terry, foi escolhido por todos os Canadianos, como a personagem mais famosa do século XX e a 2ª mais importante da história do País.

Existem estátuas e bustos seus por muitos lugares, várias ruas,  parques e escolas com o seu nome, perpetuando o seu legado e reforçando os valores que defendia.

Para mim, o espírito de Terry Fox permanece bem vivo e inspira-me sempre a dar o meu melhor.

Foi um grande exemplo de coragem e determinação em prol de uma causa, que abraçou e soube transformar na missão da sua vida!

 

Uma Aventura no Equador

Uma das razões porque gosto tanto de viajar, é a oportunidade de conhecer novas pessoas, novos lugares, novas culturas.

Viajar é uma boa maneira de te renovares, de alargares os teus horizontes, de te conheceres melhor a ti próprio(a).

Nenhuma das viagens que fiz até hoje me defraudou as expectativas, talvez porque em todas elas procurei sempre o lado diferente, o lado pitoresco e único que ela me podia oferecer.

É verdade que tenho um fascínio especial por viajar em sítios remotos da China, do Nepal, do Kirguistão, do Peru, do Equador, da Argentina, da Rússia, de Marrocos e de tantos outros  países.

Estas viagens fazem-me descobrir novas facetas de mim próprio, porque me obrigam a sair da minha zona de conforto, transportando-me literalmente para o desconhecido.

Embora já tenha feito viagens bastante “intensas” para sítios bastante inseguros, nunca senti medo ao ponto de entrar em pânico e me sentir verdadeiramente ameaçado.

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Recordo uma ocasião em 1998 no Equador, em que ,depois de ter sido o 1º Português a subir ao Cotopaxi, o vulcão activo mais alto do mundo com 5895 metros de altitude, decidi ir até à floresta Amazónica pelo lado Equatoriano.

É sempre uma verdadeira aventura viajar pelas “estradas” remotas da América do Sul.

Neste caso concreto “apanhei” um velho autocarro na cidade de Riobamba, que após várias paragens e 16 horas de viagem, me levou até Puerto Misahualy, uma aldeia remota já na Amazónia, onde a estrada termina e começam os rios, que só de piroga e lancha é possível percorrer.

A “estrada” com o nome pomposo de Transamericana, era por esta altura um mero estradão de terra e lama, que sulcava as montanhas a meia encosta.

De um lado corria sempre um rio tumultuoso que 100 ou 200 metros mais abaixo, ameaçava com as suas águas escuras e revoltas.

Do outro lado estávamos “protegidos” por uma escarpa a perder de vista, de onde de vez em quando caía um pedregulho do tamanho de um carro e que bloqueava a estrada!

Valia-nos uma velha escavadora que viajava à nossa frente, e que diligentemente ia afastando as pedras do caminho, permitindo a nossa passagem!

Em dada ocasião e após um solavanco mais violento, uma senhora que viajava ao meu lado ficou sem conseguir respirar, atrapalhado e sem saber o que fazer, chamei pelo condutor, que com um ar enfadado, parou o autocarro, levantou-se, e dirigindo-se à senhora pegou-lhe pelas axilas e deu-lhe um esticão, levantando-a no ar.

Foi remédio santo, como que regressada do mundo dos mortos, a senhora recobrou o fôlego, permitindo ao condutor regressar ao seu posto, com o ar entendido de quem pela centésima vez, pelos mesmos motivos e com os mesmos métodos, tinha salvo a vida de alguém!

A dada altura, entra no autocarro um passageiro transportando uma caixa de madeira, de onde poucos minutos depois retira uma enorme cobra piton albina, mais conhecida nestas paragens  por “matacaballos”, por ter a capacidade de “abraçando-se” ao ventre de um cavalo, o apertar até à morte por estrangulamento!

Este homem vendia uma pomada para os ossos e articulações, a autêntica banha da cobra, então para que não restassem dúvidas, fazia questão de trazer um exemplar de onde esta “mezinha” milagrosa era retirada!

A cobra que seguia pendurada aos seus ombros, passeava a sua bonita cabeça por cima dos passageiros sentados.

Por entre estas e outras peripécias lá fomos continuando “estrada” fora, solavanco aqui, paragem acolá, até que do velho e ruidoso motor, começou a sair um fumo branco que não augurava nada de bom! Pela enésima vez parámos, e curioso pela demora do condutor, decidi sair para ver o que se passava, e em boa hora o fiz, pois o pobre homem cansado e frustrado por tanta contrariedade, tentava sem sucesso, “emborcar” uns quantos litros de óleo no fatigado motor!

Dei-lhe uma “mãozinha”, que ele agradeceu genuinamente dando-me uma palmada com a sua mão  suja de óleo nas minhas costas!

Não me chateei, pelo contrário, satisfeito por ter sido útil, sorri-lhe e devolvi-lhe na mesma moeda, como só velhos companheiros de jornada sabem fazer! Seguimos viagem!

Entretanto a noite caiu, e com ela o espectáculo maravilhoso de percorrer aqueles últimos kilómetros por entre uma floresta densa, repleta de vida e de mistério.

Talvez por termos perturbado o seu descanso, as aves faziam um barulho infernal, na berma da estrada víamos pares de olhos luminosos que “à cautela” nos espiavam!

Que animais seriam? Não sei responder, mas eram certamente muitos e variados!

Devagar lá fomos continuando, e quando voltou a ser necessário efectuar outra paragem para reabastecimento de óleo no motor, o condutor com um gesto da cabeça, convocou-me para o ajudar.

Orgulhoso por tão honroso convite, levantei-me tão ligeiro quanto o cansaço me permitia, e ajudei-o a “reanimar” o pobre motor.

Finalmente chegámos a Puerto Misahualy!

Apesar do tardio da hora de chegada, os poucos habitantes ao ouvirem o ronco ofegante do autocarro, acenderam os seus candeeiros a petróleo e vieram receber-nos na praça central.

Nesta praça  existia uma  árvore enorme,  de onde para meu espanto, desceram dezenas de pequenos macacos que matreiros e espertos, tentavam roubar alguma coisa para comer!

Reencontraram-se familiares, que pela forma efusiva como se abraçavam, há muito que não se viam.

Descarregaram-se as bagagens, caixas, cestas, caixotes, que tanto fizeram sofrer o velho mas tenaz autocarro, e por fim, quando todos se foram embora para o interior das suas humildes casas, fiquei sozinho com a minha mochila e com o condutor do autocarro.

Ofereceu-me uma cerveja que  retirou de uma caixa com gelo,  como que a comemorar o “êxito” desta épica viagem.

Mais tarde,  cansado  desta aventura, afastei-me para longe, indo estender o meu colchão de montanhismo junto a uma árvore, deitei a cabeça na mochila e olhando aquele céu imenso povoado de incontáveis estrelas, esperei pelo amanhecer, e pela oportunidade de seguir a minha viagem e viver novas aventuras, desta vez de piroga rio abaixo, cada vez mais fundo nessa maravilhosa e indescritível Amazónia!

Nesta viagem da qual contei um pequeno trecho, aprendi grandes lições,  entre elas a  de sabermos valorizar as coisas simples, de termos a capacidade para das contrariedades conseguirmos retirar  coisas positivas, pois só assim independentemente das circunstâncias que nos rodeiam, podemos continuar a desfrutar da Vida em todo o seu Esplendor!