Gosto  muito de fazer ski de fundo, esta paixão já vem de longe, desde 1995, altura em que um colega de Educação Física Francês, o Xavier, me convidou para fazer a travessia do Jura em ski de fundo.

Já conhecia o Xavier desde 1993, ano em que o recebi a ele e a alguns alunos seus aqui em Portugal, para em conjunto comigo e alguns dos meus alunos, efectuarmos um estágio de escalada na Serra de Sintra e da Arrábida.

Foi uma actividade muito intensa e engraçada, da qual me recordo muitas vezes.

Mas voltando ao ski de fundo, assim que ouvi o convite do Xavier, não hesitei! E sem pensar duas vezes, aceitei de imediato!

O Jura é uma região situada entre a Suiça e a França, e a actividade consistia em percorrer cerca de 220 kms, em regime de auto-suficiência em cima de uns esquis de que para quem não sabe são bastante mais estreitos que os de ski de pista.

Fiquei empolgado perante a perspectiva de uma aventura a sério, só existia um problema, eu nunca tinha feito ski de fundo!

Bom, não seria com certeza esse “pequeno” pormenor que me afastaria de ir.

Continuei o meu treino aqui em Portugal, tratei da viagem e no inicio de Fevereiro, lá fui eu para Paris ao encontro dos meus colegas de expedição, o Xavier  e outro francês e dois companheiros Ingleses.

Aluguei umas botas e uns esquis em Paris, na loja da Vieux Campeur, e lá fomos nós numa carrinha em direcção a Bellecombe, ponto de partida desta aventura.

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Mochila ás costas, a minha com cerca de 30 quilos, ski nos pés e lá vamos nós rumo à aventura!

Os meus primeiros kms serviram para aprender os movimentos de técnica de esquiar, que para espanto meu e dos meus colegas, facilmente adquiri!

Aquele inverno estava a ser muito rigoroso, tinha nevado muito, e a temperatura nunca subia acima dos -10º negativos, mesmo de dia!

Fazíamos cerca de 30 kms diários por meio de floresta de cedros e abetos, orientando-nos por uma carta e uma bússola que guardávamos religiosamente nos bolsos dos nossos casacos, pois sem elas a nossa sobrevivência estaria comprometida.

A meio do dia, fazíamos sempre uma paragem de 1 hora, para descansar e comer alguma coisa e depois lá seguíamos nós abrindo caminho por entre quantidades monstruosas de neve.

Subíamos e descíamos continuamente, ás vezes as descidas por neve virgem não eram mais do que quedas controladas, até que um dia  alcançámos o ponto mais alto do Jura a Crete de la Neije com 1718 metros de altitude.

Lembro-me de estar sentado em cima da mochila a contemplar  a maravilhosa paisagem que se abria perante os meus olhos, o lago Leman, o Monte Branco com o seu cume resplandecente e onde eu havia estado no ano anterior. Estava extasiado e todos os muitos esforços despendidos para ali chegar, tinham merecido a pena.

No cume de uma Montanha moram sempre a paz e a tranquilidade para quem ousa lá chegar.

Chegávamos ao final de cada dia exaustos, montávamos a tenda no meio da neve, derretíamos alguma dentro das nossas caçarolas para preparar chá e uma sopa e metiamo-nos dentro do saco de cama, preparados para suportar os  20º negativos que a noite nos traria.

Atento ao silêncio e aos sons próprios dos grandes espaços selvagens, tentava aquecer-me até que naturalmente os meus olhos se fechavam, vencidos pelo cansaço da jornada.

Com as primeiras claridades da madrugada acordávamos e repetíamos a rotina, derreter água, beber um chá e uma sopa, comer alguns frutos secos, vestir a roupa de abrigo, calçar as botas de ski, desmontar a tenda ainda gelada, fazer a mochila, colocar os skis  e continuar a marcha rapidamente para nos aquecermos.

Foram dias duros mas muito gratificantes, que me ajudaram a  forjar o meu carácter de montanheiro determinado.

Os obstáculos tornam-nos sempre mais fortes!

Quando ao fim de oito dias de esforço e solidão, avistámos as casas da aldeia onde finalizava a nossa viagem, senti que tinha acabado de fazer uma coisa que jamais iria esquecer, por tudo o que tinha sido obrigado a ir buscar dentro de mim, em esforço e determinação.

Nesse dia ao jantar, finalmente livres da tirania das sopas em pacote, pudemos dar largas ao nosso apetite voraz! Que no meu caso foi atenuado por dois magníficos bitoques, regados com um copo de vinho tinto, com o qual comemoramos os cinco, tão inesquecível aventura!

Hoje à distância de todos estes anos, orgulho-me de mesmo sem saber o que me esperava, ter tido a coragem e a ousadia de caminhar rumo ao desconhecido, sem essa atitude não teria vivido esta bela aventura.

A paixão pelo ski de fundo perdura até aos dias de hoje, e assim que os primeiros flocos de neve caiem, lá vou eu para os Pirinéus ou para a nossa Serra da Estrela, desfrutar de uma actividade que me faz sentir bem, que me revigora o corpo e a alma.

Gosto tanto do ski de fundo, que em breve terei noticias para te dar!

Até que os nossos destinos se cruzem, a fazer ski de fundo ou a subir uma Montanha, desejo que vás superando com coragem e ousadia os teus desafios pessoais.

UM ABRAÇO!

 

 

6 Comments

  1. Muito forte esta aventura. Na verdade, antes de se viver, uma aventura põe-nos borboletas na barriga… nunca estamos preparados para ela e temos sempre aquele receio. Porém aventura é isso mesmo: risco, superação, libertação.
    Muito obrigado por mais este post inspirador.

    1. Obrigado Rui pelo teu comentário. Sinto que nesta aventura tive que me superar a mim próprio para a conseguir realizar.

  2. Bela história de vida que desperta em cada um de nós essa parte de força, determinação e resiliência que muitas vezes está adormecida.

    1. Obrigado Ricardo, por vezes precisamos de nos pòr á prova para sabermos de que ” massa” somos feitos. Abraço

  3. Bela história és sem dúvida um grande guerreiro um abração.

    1. Obrigado Ricardo, ainda bem que gostastes. Um Abraço também para ti.

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